Falar sobre a legalidade dos cogumelos psicoativos ainda é, para muitos, como pisar em terreno movediço. A legislação varia tanto de país para país (às vezes até de cidade para cidade) que é quase impossível ter uma resposta única e direta. Mas, nos últimos anos, esse cenário começou a mudar — e rápido. O avanço da ciência, os movimentos de descriminalização e uma nova visão sobre saúde mental estão abrindo espaço para debates que antes nem existiam.
Enquanto alguns lugares ainda mantêm a proibição rígida, outros começaram a flexibilizar, permitindo o uso terapêutico, religioso ou até recreativo dos cogumelos que contêm psilocibina. Mas vale destacar: não se trata de uma liberação generalizada. Em geral, o uso é permitido sob condições específicas — com orientação médica, dentro de contextos cerimoniais, ou limitado a centros autorizados.
Mesmo assim, o número de jurisdições que reconhecem os potenciais benefícios dos cogumelos mágicos só aumenta. E, com isso, mais pessoas estão se sentindo seguras para explorar suas propriedades terapêuticas e espirituais. É uma onda de mudança que já está afetando políticas públicas, pesquisa científica e até o mercado de bem-estar.
Então… onde exatamente esses cogumelos são permitidos? Vamos dar uma olhada nos principais países e cidades que deram o primeiro passo e abriram espaço — mesmo que limitado — para esse uso tão antigo quanto polêmico.
Holanda: o caso das trufas mágicas como alternativa legal
Se existe um país que há tempos flerta com substâncias psicoativas de forma mais aberta, é a Holanda. E com os cogumelos não foi diferente — ou quase. Em 2008, o governo proibiu a venda de cogumelos contendo psilocibina. Mas deixou uma brecha interessante: as “trufas mágicas”, ou seja, os esclerócios subterrâneos de algumas espécies, continuam legais.
Na prática, isso significa que, em lojas especializadas (os famosos smart shops), é possível adquirir trufas com psilocibina de forma legal e regulada. Elas são vendidas com informações claras, avisos de segurança e até recomendações de uso. E, sim, ainda são psicoativas — às vezes tão potentes quanto os cogumelos tradicionais.
A legalização parcial da substância fez da Holanda um dos principais destinos da Europa para o uso seguro e controlado de psicodélicos. E também ajudou a impulsionar centros de terapia psicodélica e retiros de expansão da consciência com estrutura profissional.
Estados Unidos: da descriminalização local ao uso terapêutico
Nos EUA, o cenário é mais fragmentado — mas extremamente promissor. Algumas cidades, como Denver (Colorado) e Oakland (Califórnia), foram pioneiras na descriminalização do uso pessoal de cogumelos psicoativos. Isso significa que, embora ainda ilegais em nível federal, essas substâncias deixaram de ser prioridade para a polícia e o sistema judiciário nessas localidades.
Mais recentemente, o estado do Oregon aprovou uma medida que permite o uso terapêutico da psilocibina sob supervisão profissional. E o Colorado também seguiu o mesmo caminho, criando um modelo de regulamentação progressiva. Nessas regiões, centros de terapia com psilocybe cubensis já estão sendo implementados com apoio institucional.
O que está acontecendo nos EUA pode ser o prenúncio de uma mudança nacional mais ampla. Especialmente porque o uso terapêutico da psilocibina já recebeu a designação de “terapia inovadora” pelo FDA, o que acelera pesquisas e regulações futuras. O país parece caminhar, passo a passo, para uma legalização controlada.
Canadá: acesso via autorizações especiais e terapias clínicas
O Canadá também entrou no radar dos países que estão se abrindo ao uso terapêutico dos cogumelos psicodélicos. Atualmente, pacientes com condições graves, como depressão resistente ou câncer terminal, podem solicitar permissão especial para usar psilocibina em sessões supervisionadas. Isso é feito através de um programa do Ministério da Saúde.
Essas autorizações, embora restritas, abriram caminho para que terapeutas e clínicas treinadas ofereçam acompanhamento profissional. O número de pacientes autorizados vem crescendo, e há pressão para que a regulamentação se amplie. Não é à toa que cada vez mais canadenses procuram comprar cogumelos mágicos 10g legalmente dentro desses contextos.
Além disso, o país está investindo pesado em pesquisa, com diversas universidades e startups desenvolvendo estudos sobre psilocibina, especialmente no tratamento de transtornos como TEPT, ansiedade e dependência química. É uma legalização silenciosa, mas com bases sólidas e científicas.
América do Sul: usos tradicionais protegidos e lacunas legais
Na América do Sul, o uso de substâncias psicodélicas geralmente é mais tolerado quando associado a contextos religiosos ou tradicionais. No Peru, por exemplo, o uso ritual de plantas e fungos enteógenos é legalizado, desde que inserido em práticas culturais ancestrais. O mesmo ocorre em partes do Brasil, embora o foco por aqui seja mais voltado à Ayahuasca.
Apesar disso, o uso de cogumelos com psilocibina ainda vive num limbo jurídico em muitos países sul-americanos. Em alguns casos, o cultivo não é proibido se for para fins pessoais ou científicos. Em outros, há total falta de regulamentação. Ou seja, a prática pode ocorrer, mas sem garantias legais explícitas.
É comum ver interessados em saber onde comprar psilocybe cubensis em países como Colômbia, Equador ou até Argentina. Mas o conselho é sempre o mesmo: muito cuidado com a legislação local e atenção ao contexto em que o uso está sendo realizado.
Austrália e Nova Zelândia: primeiros passos em direção à terapia legal
A Austrália recentemente deu um passo histórico ao permitir o uso da psilocibina em contextos terapêuticos controlados, especialmente para casos de depressão resistente. A mudança na legislação aconteceu em 2023 e colocou o país entre os pioneiros no Hemisfério Sul a regular essa substância com foco na saúde mental.
Na prática, isso significa que médicos psiquiatras podem prescrever sessões com psilocibina, desde que respeitem protocolos específicos. O país ainda está testando modelos de regulamentação, mas a tendência é de expansão, principalmente com o apoio de instituições científicas e médicas.
Já a Nova Zelândia ainda mantém uma postura mais conservadora, embora grupos de pesquisadores e ativistas pressionem por mudanças. Há também um interesse crescente em práticas como microdosagem com psilocibina como alternativa terapêutica — o que pode, em breve, levar a reformas legais semelhantes às da Austrália.
Portugal, Suíça e o avanço da descriminalização europeia
Por fim, é importante destacar o movimento europeu mais amplo em direção à descriminalização. Portugal, por exemplo, descriminalizou todas as drogas em 2001, o que inclui os cogumelos com psilocibina. Isso não significa que o uso é legalizado, mas sim que ele não é tratado como crime — o que já muda bastante o cenário para quem busca abordagens mais naturais e seguras.
A Suíça também tem se mostrado aberta ao uso controlado de psicodélicos em contextos terapêuticos. Clínicas com autorização especial oferecem sessões supervisionadas e o país investe em pesquisa com compostos como LSD e psilocibina. É um exemplo de regulamentação inteligente e científica.
Esses países mostram que é possível tratar o tema com seriedade e sem preconceito. O desafio agora é acompanhar essa evolução de forma segura, ética e acessível, sem repetir os erros cometidos com outras substâncias no passado.