Licenças de software: O que desenvolvedores precisam saber

Por Parceria Jurídica

5 de março de 2025

Ao desenvolver um software, muitos programadores focam apenas no código e na tecnologia envolvida, sem dar a devida atenção às licenças de software. No entanto, entender as diferentes licenças é essencial para garantir que um projeto esteja em conformidade com a lei e evitar problemas futuros.

Licenças de software determinam como um programa pode ser usado, distribuído e modificado. Algumas permitem total liberdade, enquanto outras impõem restrições significativas. Escolher a licença errada pode limitar o crescimento do projeto ou até mesmo resultar em complicações legais.

Além disso, muitos desenvolvedores utilizam bibliotecas e frameworks de terceiros sem verificar as suas licenças, o que pode gerar conflitos com os termos do próprio projeto. Dependendo da licença, pode ser necessário tornar o código aberto ou restringir seu uso comercial.

Para evitar surpresas desagradáveis, é fundamental conhecer as principais licenças de software e entender como elas afetam o desenvolvimento. Vamos explorar os tipos mais comuns de licenças e o que cada uma significa para desenvolvedores e empresas.

 

Software de código aberto e licenças permissivas

O software de código aberto permite que qualquer pessoa utilize, modifique e distribua o código livremente. Isso tem impulsionado a inovação no setor, facilitando a colaboração entre desenvolvedores e empresas. Linguagens como python cresceram muito devido à sua comunidade ativa e às suas licenças flexíveis.

Entre as licenças de código aberto, as permissivas são as mais liberais. Elas permitem que o software seja usado, modificado e redistribuído sem muitas restrições. Algumas das mais populares incluem:

  • MIT: Uma das licenças mais flexíveis, permitindo o uso comercial sem necessidade de liberar o código modificado.
  • Apache 2.0: Semelhante à MIT, mas com cláusulas adicionais sobre patentes.
  • BSD: Outra licença permissiva, bastante usada em sistemas operacionais e softwares corporativos.

Se o objetivo é incentivar a adoção do software e permitir usos comerciais sem restrições, escolher uma licença permissiva pode ser a melhor opção.

 

Licenças copyleft e suas implicações

Ao contrário das permissivas, as licenças copyleft exigem que qualquer software derivado do original também seja distribuído sob a mesma licença. Isso significa que, se um projeto usar um software sob uma licença copyleft, ele também precisará abrir seu código.

O django, por exemplo, usa a licença BSD, que é permissiva. Isso permite que ele seja incorporado em projetos de código aberto ou proprietários sem problemas. Mas nem todos os frameworks seguem esse modelo.

As licenças copyleft mais conhecidas incluem:

  • GPL (General Public License): Qualquer software derivado de um programa GPL também precisa ser GPL, o que pode impedir o uso em projetos proprietários.
  • LGPL: Uma versão mais flexível da GPL, permitindo a utilização em projetos proprietários, desde que certas regras sejam seguidas.
  • AGPL: Uma GPL mais rigorosa, exigindo que softwares que operam via web também disponibilizem seu código.

Antes de adotar um software com uma licença copyleft, é essencial entender suas implicações, especialmente se houver planos de uso comercial.

 

Licenças no desenvolvimento frontend

No desenvolvimento frontend, muitas bibliotecas e frameworks populares possuem licenças variadas. Usar uma biblioteca sem verificar sua licença pode resultar em conflitos legais inesperados.

Frameworks como React e Vue.js possuem licenças permissivas (MIT), permitindo seu uso sem grandes restrições. No entanto, algumas bibliotecas podem vir com termos específicos que exigem atenção.

Além disso, muitos componentes de UI e temas comerciais possuem restrições de uso, o que significa que nem sempre podem ser reutilizados livremente em projetos distintos. Se um projeto precisar de componentes customizados, é essencial verificar se sua licença permite modificações e redistribuição.

Para evitar problemas, sempre revise a licença antes de incorporar qualquer biblioteca no seu código e, se necessário, consulte especialistas em licenciamento.

 

Impacto das licenças no backend

O backend de uma aplicação geralmente envolve frameworks, bancos de dados e bibliotecas de terceiros, cada um com suas próprias licenças. O uso de tecnologias sem avaliar suas restrições pode levar a incompatibilidades ou até mesmo à obrigação de abrir o código fonte de um projeto.

Frameworks como Express.js, Flask e Spring Boot possuem licenças variadas. Bancos de dados também exigem atenção, pois alguns têm restrições para uso comercial. O MongoDB, por exemplo, adotou a SSPL (Server Side Public License), que exige que qualquer serviço baseado no MongoDB disponibilize seu código-fonte.

Se um projeto depende de componentes backend licenciados de forma restritiva, pode ser necessário buscar alternativas para evitar futuras complicações legais.

 

Modelos arquiteturais e licenciamento

O modelo mvc é amplamente utilizado no desenvolvimento de software, mas as tecnologias empregadas dentro desse modelo podem ter licenças distintas.

Por exemplo, um projeto MVC pode usar:

  • Model: Banco de dados que pode ter uma licença específica (PostgreSQL, MySQL, MongoDB).
  • View: Bibliotecas de UI com diferentes restrições de uso.
  • Controller: Frameworks backend que podem exigir a abertura do código dependendo da licença.

Ao estruturar um software, os desenvolvedores precisam garantir que todas as peças funcionem juntas sem conflitos de licenciamento, especialmente se houver intenção de comercializar o produto.

 

Boas práticas para evitar problemas com licenças

Para evitar problemas legais e garantir que um projeto esteja em conformidade com as licenças dos softwares utilizados, algumas boas práticas são essenciais:

  • Leia a licença antes de usar qualquer software: Parece óbvio, mas muitos desenvolvedores ignoram esse passo.
  • Use ferramentas de verificação de licenças: Algumas plataformas ajudam a identificar conflitos de licenciamento em projetos.
  • Evite misturar licenças incompatíveis: Usar bibliotecas com licenças diferentes pode criar problemas legais, especialmente em projetos comerciais.
  • Documente todas as dependências do projeto: Criar um inventário das tecnologias utilizadas facilita a conformidade com licenças e futuras auditorias.

Entender as licenças de software é tão importante quanto programar. Ignorar esse aspecto pode resultar em problemas que vão desde a reescrita de código até complicações legais sérias. Por isso, antes de começar um projeto, vale a pena dedicar um tempo para conhecer as regras e garantir um desenvolvimento seguro e eficiente.

Leia também: