É preciso licença para vender artesanato em casa?

Por Parceria Jurídica

9 de abril de 2025

Vender artesanato em casa pode parecer uma coisa simples — e, em muitos aspectos, realmente é. Mas quando a atividade começa a ganhar força, virar fonte de renda fixa ou até mesmo principal, surgem algumas dúvidas que todo mundo já teve (ou vai ter): “Preciso de alguma licença?”, “E se a prefeitura bater aqui?”, “Será que posso divulgar nas redes sem ter problema?” — e por aí vai. É um tema cheio de nuances, e que merece atenção.

Trabalhar de casa tem suas vantagens: flexibilidade, economia com aluguel de ponto comercial, mais conforto e até mais tempo com a família. Mas também exige um pouco de organização legal. Afinal, quando seu artesanato começa a gerar renda frequente e envolver entregas, notas fiscais, clientes recorrentes, já estamos falando de uma atividade comercial de fato — e a lei pode (e vai) querer saber disso.

A boa notícia é que hoje existem caminhos acessíveis pra se legalizar sem complicação. Microempreendedor Individual (MEI), alvará de funcionamento, registro de endereço comercial… tudo isso é mais simples do que parece, desde que você entenda os passos e onde pisar. E o melhor: estar regularizado abre portas — inclusive pra vender mais, participar de feiras, fornecer para lojas e até pegar empréstimos específicos para pequenos negócios.

Então, se você já trabalha com artesanato ou está se preparando pra começar, vem entender como funciona essa história de licença — e por que vale a pena se informar desde o início. Porque talento, dedicação e bons acessórios para artesanato são essenciais, sim — mas estar em dia com a lei também pode ser o pulo do gato pra crescer de forma segura.

 

O que diz a lei sobre trabalhar em casa

No Brasil, a legislação permite que algumas atividades sejam exercidas no próprio domicílio — o chamado “trabalho domiciliar”. O artesanato se encaixa nessa categoria, desde que não envolva risco à saúde pública, ruído excessivo ou incômodo à vizinhança. Então, sim, em muitos casos é totalmente legal produzir e vender artesanato em casa. Mas… tem alguns poréns.

O primeiro deles é o tipo de produto que você faz. Se envolve substâncias químicas, tintas com solventes, maquinário pesado ou geração de resíduos que possam afetar o meio ambiente ou a segurança do local, pode haver restrições maiores. Agora, se sua produção é simples — costura, bordado, crochê, peças decorativas — a legislação tende a ser mais flexível.

Mesmo assim, algumas cidades exigem que qualquer atividade comercial, mesmo exercida em casa, tenha um alvará de funcionamento. Esse documento é emitido pela prefeitura e, em alguns casos, pode ser dispensado ou substituído por uma autorização especial para MEI. Por isso, o ideal é sempre verificar as regras locais — elas variam muito de município para município.

 

Microempreendedor Individual (MEI) é o caminho?

Se você quer vender artesanato de forma profissional — com emissão de nota fiscal, recebendo via PIX empresarial, cartão, vendendo em feiras e eventos — se formalizar como MEI pode ser o primeiro e mais simples passo. O processo é todo online, gratuito e rápido. E o melhor: permite trabalhar legalmente de casa, emitir notas e contribuir para a aposentadoria.

Como MEI, você se enquadra numa categoria que inclui artesãos, costureiros, bordadeiras, entre outros. A atividade entra como “fabricação de artefatos diversos”, “confecção de artigos do vestuário”, ou outra denominação compatível, dependendo do que você faz. Com isso, você terá um CNPJ, pagará uma taxa mensal fixa (que gira em torno de R$ 70 a R$ 80) e poderá participar de editais, eventos e até vender para órgãos públicos.

Além disso, ser MEI facilita muito a abertura de conta bancária jurídica, uso de maquininhas de cartão com taxas menores e acesso a linhas de crédito específicas. E convenhamos, passar uma imagem profissional ajuda — e muito — a atrair mais clientes. Ah, e importante: como MEI, você pode trabalhar de casa sim, desde que a atividade não cause impacto urbano negativo.

 

Alvará de funcionamento: quando é exigido?

Mesmo sendo MEI, em algumas cidades ainda é necessário obter o chamado alvará de funcionamento ou um documento similar que autorize a atividade no endereço residencial. A boa notícia é que muitos municípios já aderiram ao alvará automático ou à dispensa desse documento para atividades de baixo risco — o que inclui boa parte dos trabalhos artesanais.

Na prática, isso significa que, ao abrir seu MEI, você já pode começar a trabalhar — e a prefeitura faz a análise posterior do local e da atividade. Caso haja necessidade de alguma regularização adicional, você será notificado. Mas, se tudo estiver dentro das regras (como ausência de barulho, poluição, trânsito intenso de pessoas), a permissão é concedida sem dificuldades.

De qualquer forma, é sempre bom consultar o site da prefeitura da sua cidade ou ligar diretamente para o setor de fiscalização. Eles costumam ter cartilhas específicas sobre o tema. Em alguns casos, pode ser necessário apresentar documentos como IPTU, comprovante de residência e croqui do local de trabalho — nada muito complicado, mas importante estar preparado.

 

Divulgação e vendas online: tem regras?

Vender pela internet é um dos principais canais de escoamento para quem faz artesanato. Mas… será que isso também precisa de autorização? A resposta é: depende. Se você está formalizado como MEI e declara essa atividade no seu cadastro, pode sim divulgar, vender, anunciar e até usar plataformas como Instagram, WhatsApp, Shopee, Elo7 e Mercado Livre sem maiores problemas.

No entanto, ao usar redes sociais e marketplaces, você passa a ter mais visibilidade — inclusive para órgãos de fiscalização. Por isso, manter um CNPJ, emitir nota fiscal quando solicitado e deixar tudo em ordem pode evitar dores de cabeça lá na frente. E olha que curioso: quanto mais profissional você parecer, mais confiança gera nos clientes.

Ah, e não custa lembrar: usar o endereço residencial para entregas e postagens é totalmente permitido. O que você não pode é transformar sua casa em uma loja com movimento intenso de entrada e saída de pessoas sem autorização municipal específica. Se o foco for vendas online ou por encomenda, tá tudo certo — só fique atento ao volume e à estrutura da operação.

 

Participação em feiras e eventos

Se você quer ampliar a clientela e ganhar visibilidade, participar de feiras de artesanato e eventos culturais é um ótimo caminho. Mas aí entra uma exigência comum: a apresentação do seu CNPJ ou comprovante de inscrição como MEI. A maioria das feiras formais pede essa documentação — até como critério de seleção para expositores.

Além do CNPJ, pode ser necessário apresentar notas fiscais, comprovante de residência e, às vezes, uma descrição ou portfólio dos produtos. Por isso, estar regularizado facilita o acesso a esses espaços. Em eventos maiores, pode até haver editais com seleção pública — e aí, sem documentação em dia, não dá nem pra se inscrever.

E não pense que isso limita a criatividade. Pelo contrário: esses espaços valorizam o feito à mão e a diversidade estética. Mas também cobram compromisso, pontualidade, organização. E ter tudo certinho legalmente transmite essa imagem. A formalização, nesses casos, é quase um passaporte pra novas oportunidades.

 

Benefícios de estar regularizado

Muita gente vê a formalização apenas como uma obrigação burocrática, mas ela pode — e deve — ser vista como um investimento. Estar regularizado significa poder crescer com segurança, acessar crédito, comprar com CNPJ (e às vezes com desconto), emitir notas fiscais para pessoas físicas ou jurídicas, e ainda contribuir para a aposentadoria e outros benefícios do INSS.

Além disso, a formalização permite construir uma marca com mais força. Ter um nome comercial registrado, um canal de venda profissional, emitir nota, tudo isso dá um ar mais sério ao seu trabalho — e aumenta a confiança do cliente. Em um mercado onde a confiança é um dos principais fatores de decisão, isso pode fazer toda a diferença.

E vamos ser sinceros: ninguém quer viver com medo de ser multado, ter o negócio fechado ou perder oportunidades por falta de documentação. Com um pouco de informação e organização, é totalmente possível vender artesanato em casa, com tranquilidade e legalidade — e, melhor ainda, crescer com estrutura.

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