Como atua um advogado criminalista em casos complexos

Por Parceria Jurídica

8 de abril de 2025

Casos criminais complexos exigem uma atuação que vai muito além do básico jurídico. Nesses cenários, o advogado precisa combinar estratégia, técnica e uma leitura precisa do contexto social, político e até midiático que cerca o processo. Não se trata apenas de aplicar leis e apresentar defesas — é como montar um grande quebra-cabeça, onde cada peça precisa estar no lugar certo para o resultado fazer sentido.

Além disso, a pressão nesses casos é constante. A opinião pública, os holofotes da mídia, a expectativa do cliente (e da família do cliente)… tudo pesa. É um ambiente em que cada passo é milimetricamente calculado, porque um deslize pode custar anos de liberdade. Nesse ponto, o papel do advogado criminalista se torna quase cirúrgico. Cada palavra em uma petição, cada pergunta em uma audiência, cada argumento precisa estar ancorado em uma estratégia maior.

O desafio se intensifica porque, na maioria das vezes, estamos falando de processos longos, com muitos volumes, provas técnicas, laudos periciais e múltiplos réus. O trabalho, portanto, é tanto no campo da defesa quanto no da administração de informações. A organização precisa ser impecável — e a atenção aos detalhes, obsessiva.

Mas afinal, como atua um advogado criminalista diante de um caso de alta complexidade? O que muda na prática? Que habilidades entram em jogo e o que diferencia um bom profissional nesses momentos? Vamos explorar isso em camadas, entendendo o que há por trás da atuação nesses processos que desafiam até os mais experientes.

 

Investigação paralela e reconstrução dos fatos

Quando o processo chega até o advogado, ele já vem cheio de versões, depoimentos, documentos e, muitas vezes, distorções. Em casos complexos, o primeiro passo do defensor é desconstruir o que está posto e montar uma narrativa própria — e isso exige investigação paralela. Aqui, o advogado deixa de ser apenas um técnico jurídico e assume quase o papel de um detetive.

Essa investigação envolve conversar com testemunhas, reconstituir cronologias, buscar imagens, mensagens, perícias e qualquer detalhe que possa fazer a diferença. Muitas vezes, o que parece irrelevante para a acusação pode ser a chave para desmontar toda a tese do Ministério Público. E é nesse momento que a experiência pesa. Saber o que procurar, onde olhar, com quem falar… tudo isso influencia diretamente no rumo do caso.

Além disso, essa reconstrução dos fatos precisa ser muito bem documentada. Porque não basta desconfiar — é preciso provar. O advogado monta um dossiê próprio, com evidências organizadas, análises técnicas e uma visão crítica do material da acusação. É um trabalho intenso, que demanda tempo e dedicação, mas é ele que sustenta a estratégia de defesa nos tribunais.

 

Atuação técnica em crimes financeiros

Casos de lavagem de dinheiro são exemplos clássicos de processos complexos, onde a linguagem jurídica se mistura com termos contábeis, financeiros e empresariais. Aqui, o advogado precisa dominar áreas que, muitas vezes, vão além do Direito Penal: precisa entender de contratos, movimentações bancárias, offshores, criptomoedas, entre outros temas técnicos.

O trabalho começa com a análise profunda dos documentos — geralmente milhares de páginas — para identificar onde estão os supostos atos ilícitos. Muitas vezes, a defesa envolve demonstrar que as operações tinham origem lícita, ou que não há prova do dolo necessário para caracterizar o crime. A construção da tese passa, inevitavelmente, por uma compreensão profunda dos dados apresentados.

Nesses casos, o advogado também atua junto a peritos contábeis e especialistas financeiros para montar pareceres técnicos que fortaleçam a defesa. É uma atuação que exige articulação com outros profissionais e muita clareza na comunicação, já que o juiz precisa entender todos os argumentos mesmo sem ter o mesmo domínio técnico que os peritos.

 

Preparação para julgamentos no júri

Nos casos em que o processo é levado ao Tribunal do Júri, a atuação muda completamente de tom. Aqui, não basta ser técnico — é preciso ser persuasivo, emocional, quase teatral. O julgamento é feito por pessoas comuns, e a linguagem precisa ser acessível, envolvente e, acima de tudo, convincente.

A preparação começa muito antes da sessão: o advogado estuda o perfil dos jurados, revisa provas com foco na narrativa e prepara um discurso que vá além do jurídico. A ideia é contar uma história que faça sentido — e que toque. Cada palavra é calculada, cada silêncio é estratégico, e até os gestos são ensaiados. A performance importa.

Além disso, o criminalista precisa estar preparado para rebater argumentos da acusação em tempo real, fazer intervenções precisas, lidar com imprevistos e manter a calma em um ambiente altamente emocional. A capacidade de improviso, aliada ao domínio absoluto do processo, é o que define o sucesso nessa etapa.

 

Casos sensíveis e emocionalmente intensos

Quando o tema é violência doméstica, a complexidade se dá não apenas pelo conteúdo jurídico, mas pela carga emocional que envolve o caso. Aqui, o advogado precisa equilibrar técnica e empatia, ouvindo as partes envolvidas com sensibilidade e construindo sua atuação de forma cuidadosa, sem reforçar estigmas ou revitimizações.

É uma área onde a escuta ativa se torna essencial. O advogado muitas vezes é o primeiro contato da vítima com o sistema de Justiça — ou, por outro lado, é quem defende alguém acusado de um crime que carrega forte condenação social antes mesmo de qualquer julgamento. É um campo delicado, que exige maturidade e responsabilidade ética.

A estratégia jurídica nesses casos precisa levar em conta elementos como o ciclo da violência, o contexto familiar, os laudos psicológicos e os impactos sociais do processo. É uma atuação que ultrapassa o campo do jurídico e entra no humano. E justamente por isso, exige uma formação emocional diferenciada.

 

Gestão de penas e atuação após a condenação

Mesmo após a sentença condenatória, o trabalho do advogado não acaba. No campo da execução penal, sua atuação é fundamental para garantir que a pena seja cumprida de forma legal e proporcional. Isso inclui o acompanhamento de progressões de regime, remições por trabalho e estudo, e pedidos de liberdade condicional.

Em casos complexos, a execução da pena pode envolver disputas judiciais, recursos e medidas administrativas. O advogado precisa estar atento aos prazos, aos direitos do preso e às movimentações do sistema prisional. É uma área técnica, mas também estratégica, onde cada dia de liberdade faz diferença.

Além disso, o advogado atua como um canal

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