Quais são as regras legais para abrir um sex shop no Brasil?

Por Parceria Jurídica

14 de julho de 2025

Se você já pensou em abrir um sex shop, provavelmente ficou com uma pulga atrás da orelha: “mas será que isso é legalizado? Precisa de licença? Tem restrição de local?”. Essas são dúvidas muito comuns — e legítimas. Afinal, estamos falando de um negócio que, apesar de ter se popularizado bastante, ainda carrega certa carga de tabu e desinformação.

A boa notícia é que sim, é perfeitamente legal abrir e operar uma loja de produtos eróticos no Brasil. A má notícia? Não dá pra simplesmente alugar um ponto, colocar meia dúzia de produtos na vitrine e começar a vender. Existe um caminho burocrático — com algumas regras bem específicas — que precisa ser seguido à risca para evitar dor de cabeça.

E aqui entra um detalhe importante: por mais que a legislação brasileira não proíba o comércio de artigos sensuais, ela impõe certos cuidados, principalmente relacionados à exposição, à comunicação visual e à proximidade com locais de grande circulação de menores. Ou seja, o conteúdo pode ser adulto, mas a operação precisa ser extremamente responsável.

Neste artigo, vamos destrinchar o que a lei brasileira exige para quem quer investir nesse setor. Desde o registro da empresa até as restrições de publicidade e localização. Se você tem dúvidas, ou simplesmente quer entender como funciona a legalidade por trás de um negócio tão lucrativo quanto polêmico, segue comigo que vamos por partes.

 

Registro da empresa e atividade econômica

O primeiro passo para legalizar um negócio no setor erótico é registrá-lo como empresa formal. Isso significa abrir um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) junto à Receita Federal e definir a atividade econômica conforme a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). E sim, existe um código específico para esse tipo de comércio.

Geralmente, utiliza-se o CNAE 4763-6/01, que corresponde ao comércio varejista de artigos de ótica e produtos fotográficos, mas também é comum o uso de categorias mais abrangentes, como comércio varejista de artigos de uso pessoal e doméstico. No caso de venda de produtos como o vibrador, é importante que o objeto social da empresa seja descrito de forma clara, mencionando a venda de artigos eróticos, para evitar complicações futuras.

Outro detalhe fundamental é escolher o tipo jurídico mais adequado — MEI, ME, EPP ou até LTDA, dependendo do porte do negócio. No caso de e-commerce, o processo é similar, mas exige atenção aos dados de domínio e emissão de notas fiscais eletrônicas.

Mesmo que pareça uma etapa burocrática (e é), ela é essencial. Sem esse registro, você não consegue emitir nota fiscal, abrir conta empresarial ou negociar com fornecedores sérios. Legalizar é o primeiro passo para ter um sex shop profissional e bem visto no mercado.

 

Licenciamento e alvarás de funcionamento

Com o CNPJ em mãos, o próximo passo é conseguir o alvará de funcionamento na prefeitura da sua cidade. Esse documento autoriza o estabelecimento a operar dentro da legislação municipal. E, dependendo do município, a obtenção do alvará pode variar bastante em termos de exigência.

Se a loja for física, você precisa de um espaço que atenda às normas de acessibilidade, segurança e higiene. Além disso, a vigilância sanitária pode exigir vistoria, especialmente se houver comercialização de produtos que entram em contato direto com o corpo humano, como cosméticos, géis e lubrificantes.

O Corpo de Bombeiros também pode solicitar uma vistoria para verificar as condições de segurança do imóvel. É necessário ter extintores, saídas de emergência, sinalização adequada e outros itens básicos que garantem a integridade dos clientes e funcionários.

Se o estabelecimento estiver localizado em áreas próximas a escolas, igrejas ou outros ambientes frequentados por menores, a liberação pode enfrentar obstáculos. Em muitos municípios, existem regras específicas sobre o zoneamento urbano que determinam onde um sex shop pode ou não funcionar. Fique atento a isso.

 

Exposição de produtos e restrições legais

Mesmo que a venda de artigos eróticos seja legal, o modo como esses produtos são expostos ao público é regulamentado. A legislação brasileira proíbe a exibição explícita de conteúdos de natureza sexual em ambientes de livre acesso, especialmente onde haja circulação de menores de idade.

Isso significa que vitrines, fachadas e espaços de entrada não podem conter imagens, textos ou produtos com conotação sexual explícita. A loja deve adotar uma abordagem discreta, muitas vezes com cortinas, divisórias ou sinalização adequada indicando que se trata de um ambiente voltado para o público adulto.

Produtos mais sugestivos ou com formato anatômico devem ser exibidos apenas em áreas restritas da loja, preferencialmente com orientação de um atendente. Essa medida é tanto uma exigência legal quanto uma prática de respeito ao consumidor e à diversidade cultural do país.

A regra também vale para e-commerces: as páginas de entrada dos sites devem conter aviso de conteúdo adulto e solicitar confirmação de idade. Ignorar essas medidas pode acarretar penalidades legais, além de prejudicar a reputação da marca.

 

Publicidade e comunicação institucional

Fazer propaganda de produtos eróticos exige tato, bom senso e, principalmente, obediência às leis. O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária impõe limites bem definidos para anúncios de teor sexual. Nada de linguagem ofensiva, conotação explícita ou apelos que possam ser considerados vulgares.

Propagandas devem respeitar o direito do consumidor à escolha e à privacidade. Isso inclui não utilizar imagens que possam ser interpretadas como pornográficas ou depreciativas, especialmente em mídias de alcance irrestrito, como outdoors, rádio ou televisão aberta.

Redes sociais também merecem atenção. Publicações com teor sexual podem ser restringidas ou removidas pelas próprias plataformas, que seguem diretrizes rígidas de conteúdo. O ideal é apostar em campanhas com tom educativo, informativo e bem-humorado — isso engaja o público e evita problemas legais.

Algumas estratégias criativas, como marketing de conteúdo, influenciadores e eventos fechados, têm se mostrado mais eficazes do que a publicidade direta. Afinal, mais do que vender um produto, a ideia é criar uma comunidade de clientes fiéis e informados.

 

Tributação e obrigações fiscais

Assim como qualquer outro comércio, o sex shop precisa cumprir com suas obrigações fiscais. A categoria tributária será definida de acordo com o tipo de empresa (MEI, Simples Nacional, Lucro Presumido etc.) e o faturamento anual.

No caso dos microempreendedores individuais (MEI), há um limite de faturamento anual e uma carga tributária fixa reduzida. No entanto, nem todos os CNAEs utilizados para esse tipo de negócio são permitidos no MEI, o que pode exigir que o empreendedor opte por outro regime tributário.

A venda de produtos também exige emissão de nota fiscal — inclusive em e-commerces. Isso garante não só a legalidade da operação, mas também a segurança do cliente, que tem direito a garantias, trocas e devoluções conforme o Código de Defesa do Consumidor.

Outro ponto importante: é necessário estar em dia com os recolhimentos de impostos como ICMS, PIS, COFINS e, em alguns casos, IPI. Para não se perder na burocracia, a dica é contar com um contador desde o início do negócio. Ele será essencial para manter tudo em ordem e evitar surpresas desagradáveis com o fisco.

 

Responsabilidade social e ética no atendimento

Além de todas as exigências legais, há um aspecto que, embora não esteja escrito em lei, é tão importante quanto: a responsabilidade ética. Trabalhar com sexualidade exige sensibilidade, respeito e compromisso com o bem-estar do público.

Os atendentes precisam estar preparados para lidar com diferentes perfis de clientes — pessoas tímidas, casais em busca de reconexão, pessoas LGBTQIA+, idosos, entre outros. Um atendimento acolhedor e sem julgamentos faz toda a diferença na fidelização.

Também é importante oferecer informações corretas sobre o uso dos produtos, contraindicações e cuidados de higiene. Quando possível, firmar parcerias com terapeutas sexuais, educadores ou médicos pode enriquecer o serviço prestado e valorizar a marca.

Mais do que cumprir regras, o empreendedor do setor erótico tem a missão de contribuir para a construção de uma relação mais saudável, segura e positiva com a sexualidade. Isso transforma o sex shop não apenas em um comércio, mas em um espaço de educação e liberdade.

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