Consentimento digital: como ele é tratado nas leis brasileiras

Por Parceria Jurídica

25 de abril de 2025

Falar de consentimento digital é tocar em um ponto delicado — e, ao mesmo tempo, essencial — para entender a forma como nos relacionamos na internet. Quando envolvemos desejos, imagens íntimas, dados sensíveis e interações virtuais, o “sim” precisa ser tão claro quanto o “não”. Mas será que a legislação brasileira dá conta de proteger esse campo tão subjetivo? E mais: será que as pessoas realmente sabem o que estão consentindo quando clicam em um botão ou enviam uma foto?

O que antes parecia conversa de ficção científica hoje é cotidiano. Plataformas de conteúdo adulto, redes sociais, aplicativos de mensagens e sites de streaming criaram um ambiente onde o corpo, o prazer e a intimidade estão expostos a novos riscos — e também a novos direitos. E é aí que entra o papel da lei: regular, proteger, punir abusos e garantir que o prazer virtual não se transforme em violência digital.

No Brasil, algumas legislações recentes tentam responder a essa realidade. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), o Marco Civil da Internet e a chamada “Lei Carolina Dieckmann” são os principais pilares que tratam da privacidade e do uso de informações pessoais — inclusive quando falamos de imagens, vídeos e dados ligados à sexualidade.

Neste artigo, vamos destrinchar como o consentimento digital está sendo tratado pelas leis brasileiras. Quais são seus limites? Quais as brechas? E o mais importante: como você, usuário ou criador, pode se proteger (e proteger os outros) nesse cenário onde um clique pode ter consequências reais e profundas.

 

Consentimento em plataformas profissionais e comerciais

Em grandes produtoras, como a Brazzers, o consentimento digital é tratado com contratos formais. Modelos, atores e criadores assinam termos de imagem, vídeo, distribuição e uso comercial de suas performances. Tudo é documentado, filmado e armazenado para fins jurídicos. Isso porque, legalmente, o uso da imagem sem autorização explícita pode resultar em processo — mesmo que a pessoa tenha participado da gravação.

No Brasil, a Constituição Federal e o Código Civil garantem o direito à imagem. Isso significa que ninguém pode usar sua imagem, som ou vídeo sem sua autorização. Em ambientes digitais, esse direito se estende aos conteúdos publicados em redes sociais, plataformas de assinatura e sites adultos.

Mesmo que o consentimento tenha sido dado anteriormente, ele pode ser revogado. Ou seja: se uma pessoa permitir a publicação hoje e se arrepender amanhã, ela tem o direito de solicitar a remoção. E se a plataforma ou o criador não atenderem, podem ser responsabilizados civil e criminalmente.

 

Vazamentos e compartilhamento não consentido

O famoso “nudes vazado” ou vídeo íntimo compartilhado sem permissão é um dos maiores crimes digitais atualmente. Quando isso envolve cenas explícitas — como aquelas da categoria mulher gozando — o dano emocional e social pode ser irreversível. E, felizmente, o Brasil tem legislação específica para esses casos.

Desde 2018, a Lei nº 13.718 criminaliza a divulgação de conteúdo íntimo sem consentimento — mesmo que tenha sido feito com o envolvimento da própria vítima. A pena pode chegar a cinco anos de prisão, especialmente se houver intenção de humilhar, ameaçar ou expor publicamente a pessoa envolvida.

O problema é que, na prática, muitos casos não são denunciados por medo, vergonha ou por achar que “não vai dar em nada”. Por isso, campanhas de conscientização e canais de denúncia estão se tornando cada vez mais importantes para mostrar que o direito ao sigilo e à dignidade não se perde com um clique.

 

Exposição voluntária e seus limites jurídicos

Quando uma pessoa opta por se expor voluntariamente — como no caso de personalidades como Juliana Bonde nua — isso não significa que sua imagem está livre para qualquer uso. A exposição consentida em um canal não autoriza a replicação em outros, nem o uso fora do contexto original.

Por isso, mesmo quem trabalha com conteúdo adulto ou sensual pode (e deve) acionar a Justiça se seu material for copiado, pirateado ou editado sem permissão. E aqui entra a importância dos termos de uso das plataformas: eles determinam como e onde aquele conteúdo pode circular.

Além disso, o consentimento dado precisa ser claro, específico e informado. Não basta um “concordo com os termos” genérico. A pessoa deve saber exatamente o que está autorizando, por quanto tempo e em que ambientes. Esse é um dos princípios da LGPD, que protege o uso de dados pessoais e sensíveis — o que inclui imagens íntimas, preferências sexuais e até comportamento de navegação.

 

Plataformas independentes e riscos de abuso

Sites alternativos como o Xporno oferecem espaço para criadores independentes, muitas vezes sem a estrutura legal de grandes estúdios. Isso abre oportunidades — mas também aumenta o risco de vazamentos, uso indevido de imagem e ausência de consentimento claro.

Na falta de contratos formais, é essencial que os criadores utilizem modelos digitais de consentimento: gravações em vídeo da autorização, mensagens arquivadas, declarações com data e horário. Qualquer coisa que comprove que as partes estavam cientes e de acordo com o conteúdo produzido.

E para os usuários, vale sempre desconfiar de perfis sem verificação, vídeos com marcas d’água estranhas, ou conteúdos que parecem muito fora do contexto. Se há dúvida sobre o consentimento daquela pessoa, o melhor é não consumir — e, se possível, denunciar.

 

Responsabilidade das plataformas e papel do usuário

Grandes sites como Xvideos têm políticas de remoção de conteúdo, denúncias e suporte jurídico para lidar com casos de violação de consentimento. Mas nem sempre essas ferramentas são claras ou acessíveis. E por isso, a responsabilidade também recai sobre quem consome.

Verificou que um conteúdo está sendo distribuído sem autorização? Denuncie. Está em dúvida se aquela pessoa consentiu? Não compartilhe. Está prestes a postar algo que envolve outra pessoa? Pergunte, confirme, registre. O respeito ao consentimento digital começa na ponta — com o comportamento individual de cada usuário.

E mais: ao se inscrever em uma plataforma, leia os termos. Veja como seus dados serão usados, com quem serão compartilhados, e qual o grau de controle que você tem sobre o que posta. Porque uma vez online, recuperar o controle é difícil — mas não impossível.

 

O futuro do consentimento digital no Brasil

As leis brasileiras estão, pouco a pouco, se atualizando para lidar com as complexidades do prazer virtual. Mas ainda há muito a ser feito. Faltam regras mais claras para plataformas, medidas protetivas rápidas para vítimas e, principalmente, educação digital sobre o que é (e o que não é) consentimento.

O desafio agora é criar mecanismos de validação rápida, usar tecnologia para garantir que todos os envolvidos saibam o que estão fazendo, e construir uma cultura de respeito que vá além da legalidade — que entre na ética, na empatia e no cuidado mútuo.

Porque no fim das contas, o que vale não é só o que a lei diz — mas o que cada um escolhe fazer com o poder que tem ao compartilhar, gravar, acessar e publicar. E essa escolha, no mundo digital, é tão séria quanto no mundo real.

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